UBE GO
União Brasileira de Escritores - UBE/Goiás
UBE: SOB O SIGNO DA RESISTÊNCIA CULTURAL
Heloisa Selma Fernandes Capel
A história da União Brasileira de Escritores (UBE) – seção Goiás, iniciou-se em abril de 1945. Nesta ocasião, em uma sala do Jóquei Clube de Goiás, foi eleita a diretoria provisória da ABDE, entidade que, na década de 1960, transformaria-se na UBE atual. Embora tenha sido criada em 1945, já se esboçavam as iniciativas para se criar um “núcleo”, ou uma “delegação de escritores” em períodos anteriores, como explica Bernardo Élis em entrevista ao Jornal Folha de Goiaz na década de 80. [1] Segundo o escritor, providências anteriores não lograram êxito, mas demonstraram o interesse em criar a instituição. O esforço e a intenção de vários intelectuais e de Cristiano Cordeiro, que viria a ser o primeiro presidente da entidade, bem como as iniciativas de Bernardo Élis foram decisivas nas origens da entidade.
Junte-se a esses personagens, elementos estruturais e de conjuntura favorecidos pelo Primeiro Congresso de Escritores, realizado em São Paulo, além do atrelamento de um concurso literário criado pela Prefeitura de Goiânia em 1944 à nova associação: a ligação da ABDE à Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos. [2] Estes elementos combinados vão resultar na criação e afirmação da ABDE, marco inicial da União Brasileira de Escritores, seção de Goiás.
Para se compreender a criação da Associação Brasileira de Escritores (ABDE) em Goiás, todavia, é necessário vislumbrar o processo de formação de entidades culturais brasileiras no período. Houve uma intensa movimentação das forças político-sociais no cenário internacional e no país durante as décadas de 1940 e 1950 e a performance da associação de escritores foi, ao mesmo tempo, um reflexo e um meio de expressão e resistência ao panorama social e político que emoldurou o cenário. Vivia-se o período dos nacionalismos europeus, o fim da segunda guerra mundial, o acirramento dos blocos político-partidários de esquerda e direita e o recrudescimento da censura político-cultural estimulada pela Era Vargas no Brasil.
Os escritores, legítimos representantes da intelectualidade brasileira, reagiram, foram influenciados por teorias e práticas políticas e, com a clara idéia de resistir às pressões ao seu ofício, associaram-se. As origens estiveram relacionadas à Sérgio Milliet, Mário de Andrade e Manuel Bandeira, intelectuais que fundaram a Sociedade Brasileira de Escritores em maio de 1942, no Rio de Janeiro[3]. A seção de São Paulo foi requerida por Sérgio Milliet, sob o nome de ABDE (Associação Brasileira de Escritores) – seção de São Paulo em novembro de 1942.[4]
Caio Porfírio Carneiro e J. B. Sayeg chegam a afirmar que é bastante significativo que os escritores tenham se associado durante a Guerra Civil Espanhola, sob o impacto de obras como Guernica – sobre a cidade bombardeada em 1937 – e o assassinato de Federico Garcia Lorca, em 1936. Segundo os autores, sob a pressão da Alemanha Nazista e do Estado Novo, é de se admirar a coragem de intelectuais que fundaram a Sociedade de Escritores Brasileiros, inspirada em princípios libertários, “como voz destoante da política endurecida pelos rancores da ditadura.[5]”
O I Congresso Brasileiro de Escritores parece ter sido, de fato, um marco para afirmar a vocação nacional da UBE, até então, ABDE, congregando intelectuais de vários Estados que intencionavam discutir os rumos da produção cultural e os limites da ditadura no Brasil. Ao reunir mais de quinhentos participantes que discutiam diversos aspectos da política e da cultura no país, as vozes intelectuais acabaram por contribuir para fortalecer a pressão de diversos setores sobre o Governo Vargas, que, por uma série de fatores, terminou o seu primeiro mandato em outubro de 1945.[7] Com o congresso, os escritores passam a fazer parte da intelectualidade, que no dizer de Sérgio Montalvão, tem a missão de “orientar os homens”, de fazer o papel de “educadores políticos”.[8] Foi neste congresso redigida a Declaração de Princípios, um manifesto contra o fascismo e o getulismo, o que assinala o compromisso da intelectualidade com a liberdade de expressão[9]
A palavra de ordem dos escritores, portanto, era a (re)conquista das liberdades democráticas, e, em especial, a liberdade de expressão e criação. Carlos Guilherme Mota considera o congresso como um marco na história da cultura no Brasil, uma aspiração legítima dos intelectuais brasileiros ao processo de redemocratização. Além disso, o autor destaca, a partir do episódio, a presença da política na vida cultural brasileira, aspecto sob o qual, a produção cultural no Brasil, e, em particular, de suas entidades representativas, sempre estarão sujeitas[10].
Coordenado por Sérgio Milliet, o Congresso trouxe convidados estrangeiros como Pierre Monbeig e Roger Bastide, intelectuais franceses que estudaram o Brasil e desenvolveram importantes pesquisas na recém-criada Universidade de São Paulo, além de Jaime Cortesão, brasilianista português que atuou em Universidades cariocas. Para se compreender a abrangência do evento, entretanto, vale ainda ressaltar que participaram do Congresso entidades como a União Nacional de Estudantes (UNE), a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais e várias outras instituições representativas da cultura brasileira. Dentre os participantes, destaque-se, ainda, os nomes de Mário de Andrade, Caio Prado Júnior, Monteiro Lobato, Antônio Cândido, Jorge Amado, Carlos Lacerda, Gilberto Freyre, Manuel Bandeira, Sérgio Buarque de Holanda, dentre outros.
As atividades do Congresso ocorreram em torno da apreciação de teses, análise de direitos autorais, temas da cultura em geral e questões políticas. Em meio a uma série de discussões, foram aprovadas 13 teses que versavam sobre a democratização da cultura, o apolitismo dos intelectuais, além de democracia e a planificação. Para alguns autores, a formulação política nascida nesse encontro aproximava liberalismo e democracia[11], embora houvesse muitos comunistas presentes. Os comunistas, desde a década de 30, sempre se preocuparam em manter relações com a intelectualidade brasileira, a ala progressista. Buonicore confirma a idéia e informa os acontecimentos posteriores: A Associação Brasileira de Escritores (ABDE) foi criada em 1942 por intelectuais democratas, em geral contrários ao Estado Novo. Desde o início, os comunistas dela participaram tornando-se majoritários em sua direção a partir de 1945[12].
Não é de se admirar, portanto, que o I Congresso Brasileiro de Escritores tenha sido tão importante como mola propulsora da criação da ABDE – seção Goiás. Bernardo Élis, um dos representantes da delegação de Goiás, parece ter sido uma peça fundamental dessa estratégia. Além de escritor com produção regional, uma tendência no período, Bernardo Elis estava de acordo com o clima de esquerda que insuflou a ação político-cultural dos intelectuais da época. Numa entrevista concedida ao jornal da UBE – A Voz do Escritor – ele mesmo explica suas convicções profissionais e ideológicas:
O papel do escritor me parece o mesmo em todas as épocas. Tentar vislumbrar o futuro e, para mim, o futuro está no socialismo democrático, no amor entre os homens, na supressão da exploração do homem pelo homem, no respeito à dignidade humana. O escritor pode ajudar na formação de um mundo melhor, lutando por seus princípios, especialmente, para mim, os acima enumerados. Lutando pelo método da práxis, isto é, na teoria e na prática[13].
Além das afinidades com as reivindicações e utopias do período, Bernardo Élis vivia um momento de oportunidades importantes que, aliados à sua produção de natureza social e realista, iriam consagrá-lo como intelectual e escritor na região. Em algumas entrevistas ficou evidente o desejo de organizar uma entidade que possibilitasse a captação de verbas governamentais para publicação. Para Bariani Ortêncio, um dos presidentes da UBE, a Bolsa Hugo de Carvalho Ramos (1943) e a criação da ABDE (1945) foram estratégias legais que possibilitaram a publicação da obra Ermos e Gerais de Bernardo Elis[14] e o fortalecimento da agremiação nascente. A fundação da ABDE – seção Goiás, em 1945, foi articulada, portanto, por Bernardo Élis e a prefeitura de Goiânia que prometeu, por meio de Venerando de Freitas Borges, vincular a Bolsa Hugo de Carvalho Ramos, criada dois anos antes, às atividades a serem desenvolvidas pela entidade. Esta Bolsa aprovou a publicação da obra Ermos e Gerais, o livro de contos do então estreante escritor que se destacaria no cenário regional e nacional como um ficcionista engajado. Publicada em 1944, Ermos e Gerais recebeu cartas com louvores de Monteiro Lobato e Mário de Andrade.
Filiado ao partido comunista em 1944, Bernardo Élis contou, ainda, com a colaboração de um emblemático nome da esquerda nacional para a criação da ABDE – seção Goiás: Cristiano Cordeiro, o fundador do Partido Comunista do Brasil em 1922. Cristiano Cordeiro estava em Goiás, deportado de Pernambuco por causa de sua militância política. Mesmo sem forte formação teórica, Cristiano Cordeiro era um idealista, considerado por Leandro Konder como um “santo do comunismo”.[15] De fato, na Revista do Arquivo Histórico do Movimento Operário Brasileiro dedicada a Cristiano Cordeiro, foi publicada a entrevista concedida ao jornalista Ricardo Noblat, em 1979. Nela Cristiano Cordeiro assim define a utopia comunista e cristã pela qual dedicou sua vida e trabalho:
Acredito que o mundo caminha em direção ao socialismo. O governo do Estado Socialista, na sua fase final, dará margem a que surja um novo tipo de sociedade e que o Estado histórico, o Estado da coação sobre as pessoas, desapareça, e ceda lugar ao Estado apenas como órgão para administração das coisas. Nenhuma classe dominará sobre as outras. (…). Num Estado Socialista, a liberdade de culto e religião terá de ser respeitada. (…). O sistema moral do cristianismo é inatacável. Não há nada na essência do cristianismo que colida com a ética socialista. (…) Jesus Cristo foi nosso primeiro camarada.[16]
Cristiano Cordeiro
Com esta índole e ética, Cristiano Cordeiro chegou a Goiás e envolveu-se com representantes da intelectualidade goiana. Entretanto, sua participação nas origens da ABDE, foi mais simbólica do que efetiva. Embora conste nos registros da entidade como primeiro presidente, Cristiano Cordeiro nunca exerceu o cargo de maneira concreta. Ao relatar, em suas memórias, sob quais circunstâncias aportou em Goiás em 1940 para retornar ao Recife oito anos depois, não há nenhuma referência à entidade em que figura como primeiro presidente:
Em 1939, por conta do Estado Novo, fui deportado de Pernambuco e tive de sobreviver em Santos, lecionando em dois colégios e trabalhando como revisor do jornal Diário de Santos. Dois anos depois, recebido por Pedro Ludovico, interventor de Goiás, apresentado a ele pelo então deputado federal Domingos Velasco, fui ser professor em Goiânia. Como eu, muitos deportados depois da “intentona” receberam abrigo de Ludovico. Aos que reclamavam de sua tolerância para conosco, ele costumava responder, citando Euclides da Cunha: “Goiás e Mato Grosso são a Sibéria Canicular do Brasil”, querendo dizer com isso que nós, de fato, éramos prisioneiros. Em Goiânia, fui diretor da Biblioteca Pública e colaborei em jornais. Na condição de presidente da Liga pela Anistia da cidade, estivemos com Prestes, no Rio, quando ele ainda estava preso. Aproveitei para denunciar-lhe a infiltração de elementos do governo de Vargas na Reorganização do PCB, que fora posto na ilegalidade (…). Em 1948, retornei ao Recife.[17]
Bernardo Élis confirma essa posição: “Cordeiro nunca esteve na presidência da entidade, pois desde o Congresso de São Paulo retornou para o Rio de Janeiro, reassumindo cargo de que tinha sido afastado pela ditadura getulista na qualidade de fundador do Partido Comunista Brasileiro. Desde o início, pois, a presidência da antiga ABDE e hoje UBE esteve ocupada por mim, onde me mantive de 1945 a 47, depois entre 47 e 49 e novamente de 1959 e 61”. [18]
Hugo de Carvalho Ramos
Mesmo não sendo o presidente efetivo da entidade, Cristiano Cordeiro constou nos registros como seu presidente. Sua escolha foi confirmada na seção preparatória da ABDE de Goiás, realizada em 26 de maio de 1945. Neste documento, além da confirmação dos nomes anteriormente definidos para compor a diretoria, há uma discussão interessante sobre os rumos da associação nascente e de sua relação com a política. Desde o início, fica registrada a necessidade da ABDE possuir um veículo literário e, ainda, sobreviver com subvenção política, mas preservando sua liberdade de expressão. Esta tônica fica esclarecida desde os primórdios da entidade. Ao avaliar o Estatuto nascente, na reunião de aprovação final do Estatuto da ABDE realizada em 09 de junho, os participantes Cristiano Cordeiro, Bernardo Élis, Domingos Félix, Hélio Lobo, Maria Paula Fleury, Ofélia Sócrates e Eli Brasiliense, fazem anotar no livro de reunião que seria alterado o artigo 2o. Nele, o seguinte texto deveria garantir a livre expressão e debate de idéias.[19]
O documento da sessão preparatória ainda informa uma estratégia que parece ter sido fundamental na consolidação e legitimação da entidade até os dias atuais: a vinculação da Bolsa Hugo de Carvalho Ramos, criada em 1943, à ABDE. A partir da fundação da entidade, o julgamento da Bolsa seria realizado por uma comissão criada na entidade:“José Godoy Garcia propõe que o julgamento das obras da Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos seja realizado pela ABDE. Todos concordaram”.[20]
ATA de Fundação da Associação Brasileira de Escritores (ABDE) realizada no dia 14 de abril de 1945
Aos quatorze dias do mês de abril de um mil novecentos de quarenta e cinco, às quinze horas, no salão do Jóckey Clube de Goiás, foi realizada Sessão Solene para fundação da Associação Brasileira de Escritores (ABDE) e eleição de sua Diretora Provisória. Aberta a Sessão, usou da palavra o escritor Cristiano Coutinho Cordeiro, dizendo da necessidade de constituir uma entidade que viesse a representar a classe dos escritores goianos. Em seguida, passou a palavra aos presentes. Usou da palavra o escritor Bernardo Elis que enalteceu a iniciativa que foi corroborada com os escritores presentes: Srs. Domingos Félix de Souza, José Décio Filho, Vilmar Guimarães, Hélio Lobo, Maria Paula Fleury de Godoy, Eli Brasiliense, Euclides Félix e outros. Após a discussão ficou decidido sobre a fundação da entidade e que na assembléia seguinte seria apresentado o Estatuto e a composição da Diretoria Definitiva. Assim ficou formada a Diretoria Provisória: Prof. Cristiano Cordeiro, Bernardo Elis e Hélio Lobo. Nada mais a constar, foi lavrada a presente ata, que após lida e achada conforme foi assinada pelos presentes. Assinatura dos Fundadores: 1.José Lobo;2.Cristiano Cordeiro; 3.Ofélia Sócrates do Nascimento Monteiro; 4.Maria Paula Fleury de Godoy;5.José Bernardo Félix de Sousa; 6.Bernardo Elis; 7.José Godoy Garcia;8.Domingos Félix de Sousa;9.M.Augusto Gonzaga;10.José Décio Filho; 11.Oscar Sabino Júnior;12.Eli Brasilliense Ribeiro;13.Anderson de Araújo Costa; 14.Frederico Medeiros;15.Hélio Lobo;16.Zecchi Abraão; 17.(ilegível);18.José Augusto da Paixão;19.(ilegível);20.Paulo Limírio Malheiros;21.Gilson Alves de Sousa;22. Elder Rocha Lima; 23.(ilegível)24.J. Lopes Rodrigues;25.Colemar Natal e Silva; 26.Gilson de Castro.
Para a primeira seção ordinária da ABDE de Goiás, realizada em 23 de junho de 1945, o local escolhido para a reunião foi uma sala da Sociedade Goiana de Pecuária (SGPA), cedida por Altamiro de Moura Pacheco. Decide-se, nesta reunião, adaptar o Regimento Interno da Seção de Goiás ao Estatuto de São Paulo, condicionado a apenas algumas mudanças. O registro legal da ABDE no Diário Oficial foi realizado em julho de 1945. No termo de registro são definidas as normas básicas da Associação.
Desde as primeiras reuniões, é recorrente a idéia de criar um órgão literário da ABDE para divulgar os trabalhos dos associados [21]. E é interessante observar o panorama cultural e literário de Goiás no momento desta reivindicação.
No jornal O Observador, publicado em 1942 [22], Modesto Gomes opina sobre a situação literária de Goiás no período. A despeito do isolamento do restante do país e dos centros literários mais dinâmicos, Modesto Gomes antevê uma contribuição de peso que se desenvolve desde Hugo de Carvalho Ramos e a lenta integração de Goiás ao resto do país. Para ele, este processo deve-se à formação mineratória e agropastoril do Estado, pouco afeito aos assuntos da cultura. É a ficção regionalista, para Modesto Gomes, que acende a literatura goiana e a projeta para fora do Estado. Este autor identifica duas correntes regionalistas importantes na década de 40: a terrígena e a primitivista.
A primeira, “de prosa rebuscante e difícil”, teve como iniciador Hugo de Carvalho Ramos. Nesta corrente, criou-se uma realidade ficcional verossímil, “uma literatura de protesto, interessando-se vivamente pelo sofrimento das criaturas, a miserável gente do interior de Goiás”. Os continuadores de Hugo de Carvalho Ramos, como Bernardo Élis e Eli Brasiliense, foram regionalistas que, ao trabalhar a realidade, o fizeram de maneira literária e artística. Como escreveu Mário de Andrade a Bernardo Élis: “jamais a gente percebe nos escritos de você aquele ranço do documento, tão prejudicial à ficção legítima. Você pega o documento e com ótima desenvoltura o transforma num elemento seu, como nascido de você, criando aquela realidade mais real que o real, que é do melhor espírito e força da ficção”.[23]
A segunda corrente, a primitivista (na expressão de Gilberto Mendonça Teles), teve como iniciador Pedro Gomes. Neste caso, a prosa interessa-se mais pelos traços orais de fundo folclórico. Bariani Ortêncio, com dois livros publicados na ocasião, era um legítimo representante dessa corrente, segundo Modesto Gomes.[24]
Gilberto Mendonça Teles, tradicional crítico literário de Goiás, identifica no período, importantes acontecimentos que, segundo ele, criaram uma atmosfera propícia à criação e posterior consolidação da ABDE. Antecedido predominantemente pelos ares românticos, o modernismo em Goiás iniciou-se, segundo o autor, na década de 20, com a publicação de Ontem, obra de Léo Lince (pseudônimo de Cileneu Marques de Araújo Valle). Todavia, o movimento de 1930, a fundação de Goiânia, a criação da Revista Oeste, além da instauração do Instituto Histórico Geográfico de Goiás (1933) e da Academia Goiana de Letras, em 1939, revolveram o solo da movimentação intelectual. Para o autor, entretanto, é a criação da Bolsa Hugo de Carvalho Ramos, em 1943, o acontecimento mais relevante no cenário literário e cultural de Goiás deste período. Como explica:
A Bolsa Hugo de Carvalho Ramos, foi criada pelo decreto municipal n.475, de março de 1943 e regulamentada pelo decreto nº 599, de 30 de abril do mesmo ano. Em 1945, pelo decreto-lei nº 522 de 8 de outubro, passou a ser supervisionada pela Associação Brasileira de Escritores – Secção de Goiás (ABDE), que nesse ano se fundou em Goiânia. Apesar de seu funcionamento mais ou menos burocrático, a Bolsa Hugo de Carvalho Ramos é a única entidade cultural que prestou e vem prestando efetiva contribuição às nossas letras.[25]
De fato, logo que foi fundada, a ABDE assumiu a responsabilidade pelo julgamento e premiação da Bolsa Hugo de Carvalho Ramos. Na Ata da sessão de 01/09/1945[26], em reunião realizada na SGPA, há a nomeação da Comissão Julgadora da publicação da Bolsa Hugo de Carvalho Ramos, a partir daí de responsabilidade da ABDE. A Comissão foi constituída por Domingos Félix de Sousa, Maria Paula Godoy e Oscar Sabino Júnior. Além do parecer sobre a obra em geral, os integrantes da comissão comprometiam-se com a correção da obra, caso indicado[27].
Os documentos encontrados na sede da UBE atual, demonstram o envolvimento dos representantes da ABDE, em 1946, com a Bolsa Hugo de Carvalho Ramos, comprovando ser, esta, a atividade mais importante da entidade no período. Em comunicação com a Prefeitura de Goiânia, as obras aprovadas eram editadas em São Paulo, na Empresa Gráfica Revista dos Tribunais Ltda. Necessário observar, que, mesmo tendo como presidente oficial o nome de Cristiano Cordeiro, os ofícios desse ano são endereçados ao secretário em exercício, Oscar Sabino Júnior, ou ao escritor Bernardo Élis, referindo-se a ele como “presidente”, cargo que só assumiu, legalmente, no ano seguinte.
Obra póstuma, Nos Rosais do Silêncio (1947), de Americano do Brasil, foi, portanto, a primeira obra publicada pela Bolsa Hugo de Carvalho Ramos, sob a supervisão oficial da ABDE. Considerado como pré-modernista por Gilberto Mendonça Teles, em Nos Rosais do Silêncio, o autor se mostra como um poeta simbolista, pelos temas e concepções, pela musicalidade impressa às palavras, pelas prosas poéticas ou sonoras, que constituem parte do livro. O pré-modernismo, justifica-se, por outro lado, pela liberdade de expressão concedida à feitura dos versos e a adoção de ritmos novos, pessoais.[28]
Em ata da 4ª Sessão da ABDE, de 15/09/1945, os membros da comissão reuniram-se para discutir e avaliar os pareceres sobre a obra Nos Rosais do Silêncio. A obra foi aprovada e considerada de reconhecido valor histórico. Em parecer de Marilda Palínea (pseudônimo de Maria Paula Fleury de Godoy) ainda é possível observar a atmosfera de luta dos escritores e a valorização das obras que, de alguma maneira causassem algum impacto social:
Venerando de Freitas Borges
Voto pela imediata publicação, como valioso documento de nosso passado cultural, e por não ser uma obra frágil, cultural ou emocionalmente inútil, antes uma obra importante pelo seu espírito de revolta, como sadio esforço de evolução, de superação.[29]
Desde o princípio, a ABDE demonstrou preocupação em manter a credibilidade do julgamento das obras a serem publicadas pela Bolsa Hugo de Carvalho Ramos. Em 05/09/1945, o prefeito Venerando de Freitas Borges, solicita da ABDE a avaliação da obra Musa Bravia, de Demóstenes Cristino. Neste ofício, o prefeito informa a recusa de Léo Lince em julgar a obra, pela proximidade entre o parecerista e o autor. [30] Houve, portanto, algumas recusas de avaliação e de publicação, que, embora com razões subjetivas e de justificativa difícil, afirmaram que as comissões deveriam tratar com respeito os autores concorrentes à Bolsa, tratamento adequado ao escritor que deveria ser estimulado, em especial em Goiás, Estado onde quase ninguém escrevia:
O livro “Vozes do Caminho”[31] não deve ser publicado pela Bolsa de publicações Hugo de Carvalho Ramos, mas o autor deve ser tratado como gente, não como cachorro de estimação. E, se possível, que seja chamado a iniciar-se nos misteres da ABDE, em homenagem a seu esforço na elaboração de um livro, num Estado onde quase ninguém escreve.[32]
Com a ação contínua do secretário em exercício, Oscar Sabino Júnior e o Presidente Bernardo Élis, as atividades da ABDE em 1947 foram intensas e giraram em torno da Bolsa Hugo de Carvalho Ramos. Cartas e ofícios demonstram que as reuniões aconteceram com freqüência e que já gravitavam em torno da publicação de outras obras, a serem julgadas por comissões alternadas: o livro Vida Pobre, que teve o seu título mudado para Rio do Sono, de José Godoy Garcia e obteve sua publicação em 1948, além da obra Pium, de Eli Brasiliense, que seria publicada em 1949. A ABDE preocupava-se, também, com a distribuição das obras, como atestam as comunicações do secretário da entidade com livrarias em que fosse possível fazê-lo.[33]
Em vários ofícios fica evidente a dependência da ABDE, nas atividades efetivas de publicação, das verbas liberadas pela Prefeitura de Goiânia e que estavam relacionadas à Bolsa Hugo de Carvalho Ramos. A ABDE, nascida sob influência dos protestos de intelectuais comunistas a favor da liberdade de expressão, vinculava sua estrutura de funcionamento ao poder público.
A década de 50 será um período importante na história da entidade. Fatos externos à ABDE – Seção Goiás, bem como eventos ocorridos internamente, vão contribuir para que a associação se consolide e adquira sua primeira sede. Antes, porém, vale analisar o panorama nacional da matriz geradora das ABDEs regionais. A ABDE nacional sofre uma cisão e os efeitos se fazem sentir em Goiás.
Com o fim do Estado Novo em 1945 e a redemocratização do país, o Brasil conheceu um pequeno período de reconquista de algumas liberdades democráticas como a liberdade de imprensa e de organização. Todavia, com o fim da II Guerra e o início da Guerra Fria, houve perseguição ideológica durante o governo Dutra (1946-1951). Em 1950, Getúlio volta ao poder sob um equilíbrio tenso: de um lado, os militares e a UDN, de outro, o movimento nacionalista apoiado por trabalhistas e comunistas. A década de 50 será conhecida pela radicalização política e este fato influenciou a história da ABDE.
É importante lembrar que a ABDE foi um importante instrumento de manifestação a favor das liberdades Diversos intelectuais que aglutinaram-se em torno de sua criação e organização; irmanados na luta contra a ditadura getulista na ocasião, mostrarão mais tarde suas divergências ideológicas. Tais dissensões vão culminar com uma cisão na ABDE de São Paulo. Buonicore considera os conflitos na ABDE como um dos momentos mais dramáticos de cisão da intelectualidade brasileira. As discussões se acirraram durante a eleição na associação em 1949. Concorreram, pela primeira vez, duas chapas: uma apoiada pelos comunistas e outra pelos setores liberais e democráticos. Da chapa de oposição liberal faziam parte os escritores Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira, dentre outros. Buonicore relata que houve sérias agressões durante o evento e que, embora os comunistas tenham vencido as eleições, a organização intelectual iniciada na década de 40 perdeu força. Os intelectuais paulistas não comunistas eram taxados de escória da terra, em que pontificam tarados, renegados, lumpens e até mesmo alguns retardados mentais.[34] Para os mais sectários comunistas, Carlos Drummond foi considerado um anticomunista raivoso, para quem a lealdade jamais constituiu uma pedra no caminho.[35]Drummond explica em seu diário que desejavam uma associação livre de sectarismos e que tal ponto de vista era inconcebível para o comando comunista que venceu as eleições da entidade em 1949.[36]
Carlos Drummond de Andrade
Em Goiás a situação social era, também, dramática. Mesmo com o panorama democrático e populista inaugurado com a era Ludovico, a década de 50 foi o período do acirramento de muitas questões sociais. Cite-se, como exemplo, os conflitos de terra na região de Trombas e Formoso, no município de Uruaçu (1952). Todavia, é importante assinalar o atrelamento da ABDE, desde a sua criação, ao apoio e à subvenção política, articulados desde a primeira presidência, como já foi mencionado. Fato que, se por um lado, criava uma certa dependência estrutural da entidade ao poder político, por outro não parecia interferir, de forma direta, na maneira como os escritores, em pequeno número, pensavam e elaboravam suas obras.
Nos primeiros anos da década de 50, os documentos encontrados na entidade tratam dos pareceres sobre as obras a serem publicadas pela Bolsa Hugo de Carvalho Ramos e a defesa da tônica regional das publicações. São de 1951 os pareceres sobre a obra Gente deRancho, de Léo Godoy Otero. Neles há uma exaltação aos aspectos regionais presentes na linguagem do autor – que não usou termos caipiras só nos diálogos – mas na construção das personagens, considerados tipos característicos de Goiás. O livro é recomendado porque tem mais exatidão sobre os costumes e comportamentos da gente da roça e das favelas goianas.[37]
A defesa da temática regional e realista ainda estava de acordo com a perspectiva comunista de fazer literatura engajada. Em 1953, há um parecer de José Godoy Garcia sobre a obra Dentro da Noite, de José Milton Vianna. Nela, pode-se observar uma defesa apaixonada da literatura de cunho social e da inadequação, para a época, dos romantismos das velhas escolas. José Godoy Garcia inicia esclarecendo que não leu todos os poemas do livro, pois achou desnecessário, e que apenas examinou cerca de vinte poemas de José Milton Vianna para concluir que não era preciso estudo de todos eles, uma vez que conhecer o poema de um romântico é conhecer mil[38]. Em seguida, reconhece na poesia de José Milton Viana o romantismo da velhíssima escola, o qual se não for abandonada pelo poeta jamais lhe renderá dinheiro. Neste caso, afirma, somente aquilo que há de juventude em sua obra, e é de fato, o que mais há, poderá fazer dele uma criatura do seu tempo.[39]
José Godoy Garcia continua seu parecer e declara que somente é fonte para a justa poesia e para uma criação literária viva, os anseios dos humildes, dos oprimidos, das camadas mais baixas e profundas do povo, as angústias das gentes simples, humilhadas, famintas, revoltadas, as lendas e histórias populares.[40]Acrescenta que a poesia de J. Milton Vianna não bebe desta fonte. Mesmo assim, para acender o debate literário, o parecerista recomenda a publicação da obra, o que de fato ocorreu em 1955.
Gilberto Mendonça Teles identifica muitos acontecimentos significativos para a cultura em Goiás, desde a década de 40. Desde a vinda de Bernardo Élis do I Congresso Nacional de Escritores em 1945, até a década de 50, muitos outros eventos iriam fomentar a dinâmica intelectual literária e cultural no Estado. De todos, destaca três: a Fundação da Associação Goiana de Teatro (AGT) – idealizada por Otavinho Arantes – que apresentou um texto de Mário Lago, em 1946; o lançamento do Jornal Goiaz Moço, em 1948, que, embora de vida curta, contribuiu para o lançamento de novos valores literários, além da Fundação da Faculdade de Filosofia de Goiás, em 1949, hoje parte integrante da Universidade Católica de Goiás, instituição que estimulou os estudos literários e acadêmicos na região.[41]
A cisão da ABDE em São Paulo e o acirramento das questões ideológicas podem ter influenciado a quebra da euforia literária e continuidade de publicações em Goiás durante os anos de 1950 e 1955[42]. Este “marasmo literário” estará entre dois acontecimentos importantes na capital: o I Congresso Nacional dos Intelectuais (1954) e a I Semana de Arte em Goiás (1956).
O I Congresso Nacional dos Intelectuais foi realizado em Goiânia, no período de 14 a 21 de fevereiro de 1954. Sob a presidência de Xavier Júnior e assessorado por mais de cinqüenta intelectuais goianos, o Congresso perseguiu os seguintes objetivos: defender a cultura brasileira e estimular seu desenvolvimento, preservando suas características nacionais; promover o intercâmbio intelectual entre os povos; discutir os problemas éticos e profissionais dos intelectuais.
Ao Congresso compareceram nomes internacionais como Pablo Neruda (Chile), Fernando Correa Silva (Portugal), René Depreste (Haiti), Gabriel Darboussier (França), Assunción Flores (Paraguai), dentre outros. Vieram, também, representantes de outros Estados. A participação local ficou a cargo de todos os intelectuais envolvidos na Revista Oeste, segundo Gilberto Mendonça Teles. A ideia, segundo este autor, era realizar um encontro que restabelecesse a união dos intelectuais, divididos por causa da cisão em São Paulo, em 1950. Como explica:
A história desse I Congresso Nacional de Intelectuais, realizado em Goiânia, em 1954, pode ser assim resumida: Derrubada a ditadura e finda a Guerra Mundial, começam a agitar os escritores brasileiros em vários Estados. Em Goiás, a conseqüência imediata foi a criação de uma secção da ABDE, em 1945. Neste mesmo ano, realizou-se em São Paulo o I Congresso Brasileiro de Escritores, promovido pela ABDE. Marcou-se outro para dois anos depois, que se realizou em Belo Horizonte, em 1947. Em 1949, realizou-se o III, desta vez na Bahia. Por ocasião do IV Congresso Brasileiro de Escritores, realizado em Porto Alegre, um dos nossos representantes, Domingos Félix de Sousa, mesmo contra seus companheiros (Bernardo Élis, D. Amália Hermano, etc), se bateu para que o V Congresso se realizasse em Goiânia, no que foi atendido. Mas, por essa época, com a infiltração de idéias comunistas na Associação Brasileira de Escritores, houve uma cisão em São Paulo, imitada depois nos outros Estados, criando-se mesmo novas instituições. Então, para que se unissem, não somente os escritores, mas todos os intelectuais brasileiros, em vez de realizar em Goiânia o V Congresso Brasileiro de Escritores, programou-se o I Congresso Nacional de Intelectuais, que conseguiu atingir os seus objetivos.[43]
Não há registros, na entidade, de atas ou documentos que indiquem o processo de transição na presidência da ABDE – seção Goiás, da direção de Bernardo Élis, para outra pessoa, em 1949. Todavia, sabe-se, por documentos mais pontuais e classificatórios, que a presidência da UBE, ficou a cargo de Eli Brasiliense de 1950 a 1955. Jornalista, educador e escritor, sua notoriedade deve-se à publicação de Pium, pela Bolsa Hugo de Carvalho Ramos, em 1949, no mesmo ano em que assumiu a presidência. Por meio desta obra, segundo Sérgio Milliet, criou-se uma nova província literária no Brasil, contrabalançando o peso das publicações do Rio de Janeiro e de São Paulo.[44]
Em entrevista concedida a Geraldo Coelho Vaz em 1989, Eli Brasiliense explica os maiores desafios da entidade durante os anos em que exerceu a presidência e destaca a importância do I Congresso Nacional de Intelectuais:
Eli Brasiliense
Em primeiro lugar, era a falta de dinheiro para uma instalação funcional da entidade. Tivemos, também, que enfrentar a descrença em qualquer iniciativa, pelo pequeno número de associados, numa época em que imperava o berro do zebu. Superando tudo isso, conseguimos realizar o I Congresso Brasileiro de Intelectuais, com a ajuda do Estado, que nos deu uma verba de quinhentos mil cruzeiros. Hospedamos todos os participantes e ainda sobrou dinheiro. A idéia foi muito criticada no início, mas teve logo o apoio de todos os intelectuais goianos, do Brasil e do Exterior.[45]
Se o I Congresso Brasileiro de Intelectuais não foi suficiente, de fato, para estimular as letras em Goiás, ou mesmo resolver, em definitivo, todos os problemas da ABDE, outro acontecimento, após o último ano da presidência de Eli Brasiliense, iria somar-se aos esforços de congregar intelectuais e escritores, além de divulgar e estimular a cultura artística: a realização da I Semana da Arte em Goiás (1956). A Semana da Arte foi realizada no primeiro ano da gestão de José Bernardo Félix de Souza (1956-1957).
José Bernardo Félix de Souza nasceu em família de intelectuais e, paralela à sua atividade como escritor, exerceu vários cargos públicos e foi professor nas Universidades de Goiás. Não há, na entidade, registros que dêem detalhes de sua eleição para presidente da ABDE – Seção Goiás. Sabe-se, entretanto, que exerceu o mandato por dois anos e que durante sua gestão, as atividades culturais da ABDE continuaram seu curso. É desse período, também, a conquista de um apoio importante para a entidade: a definição legal de uma subvenção anual, a ser paga pelo Estado para, dentre outras atividades, auxiliar na manutenção da entidade, como será explicado adiante.
Sob a responsabilidade do novo presidente da ABDE, José Bernardo Félix de Souza, foi, então, realizada a I Semana da Arte em Goiás (1956). Segundo Gilberto Mendonça Teles, a Semana foi pensada pelo Prof. José Bernardo Félix de Souza para motivar o ambiente literário. Para este seminário, foram convidados livreiros e alguns escritores paulistas como Domingos Carvalho da Silva, Mário Donato, Antônio Rangel Bandeira e Homero Silveira. Em seu pronunciamento, este último reacendeu a polêmica iniciada no ano anterior, por ocasião de um evento realizado no Jóquei Clube para homenagear escritores iniciantes, em que o Prof. Zecchi Abraão afirmou que em Goiás “nunca houve literatura”. Na I Semana da Arte em Goiás, Homero Silveira fez várias críticas aos escritores goianos, especialmente por não se adequarem aos valores poéticos do modernismo, em sua terceira fase. Embora houvesse protestos, o próprio Eli Brasiliense, assim se expressou sobre o episódio: “cavalo que anda com passo lerdo precisa mesmo de algumas lambadas”.[46]
Regina Lacerda
Para Gilberto Mendonça Teles, esta polêmica teve uma repercussão positiva no período. Ela foi a grande motivadora do grupo literário “Os Quinze”, grupo encabeçado por Regina Lacerda e que reuniu diversos escritores e artistas em fevereiro de 1956. Este grupo chegou a fazer circular, no ano seguinte, o único número do jornal Poesia, jornal em que o grupo revela sua identidade com os poetas da “Geração de 45”. Os poetas escolhidos para integrar o grupo, eram os considerados da nova geração: Regina Lacerda, A.G.Ramos Jubé, Elísio de Assis Costa, Jesus Barros Boquady, Gilberto Mendonça Teles, Édison Alves de Castro, Maria Ivone Rodrigues, Raimundo Rodrigues, Irorê Gomes de Oliveira, Eurico Barbosa, Benedito Odilon Rocha, Frei Nazareno Confaloni, Jacy Siqueira, Minerval Benedito de Oliveira e José Leão. No artigo de fundo do jornal Poesia, escrito por A G. Ramos Jubé, os quinze apoiaram um manifesto. Nele, prometeram lutar pela cultura de sua terra e que, concordavam com Bernardo Élis quando afirmava que o empenho dos escritores deve ser o de criar um ambiente cultural que os liberte do isolamento e da rotina que os sufoca e estiola. O manifesto dos Quinze termina com uma exaltação à união: somos quinze, porém somos toda a geração literária de Goiás, uma vez que nela estamos integrados.[47]
De fato, a polêmica e as rivalidades deram o tom da entrevista concedida ao Jornal do Escritor em 1989, pelo presidente da ABDE, José Bernardo Félix de Souza:
Havia uma certa rivalidade entre o pessoal da entidade, mas eu superava essas questões.(…) Acho que tudo não passa de puro despeito. Há escritores que, se aparecem, conseguem se projetar lá fora, são esquecidos aqui.[48]
O presidente também assinala o maior desafio dos escritores goianos: encontrar meios de publicação e distribuição de suas obras. No relatório que José Bernardo Félix de Sousa faz para nova diretoria da vida da instituição entre os anos de 1956 e 1957, há referências à I Semana da Arte e à subvenção anual concedida pelo Estado à ABDE, para custeio e manutenção da entidade.
A eleição da nova diretoria foi convocada em abril de 1957. No Edital de convocação, há uma indicação do endereço da ABDE, local em que provavelmente as reuniões eram realizadas: a sede social da Associação Goiana de Imprensa-AGI, no Edifício Goiamat, Av. Goiás, n°32, 2oandar[49].De fato, convocadas as eleições, a nova diretoria foi eleita em 16/05/1957.
A gestão de Oscar Sabino Júnior contribuiu, de maneira concreta, para o processo de consolidação da ABDE. Com as conquistas da administração anterior, Oscar Sabino deu continuidade ao processo de abertura dos canais de publicação e divulgação dos escritores. Em carta de 08/11/1957, o novo presidente informou ao Secretário de Educação, José Feliciano Ferreira, que, pela lei nº 1.229 de 05 de julho de 1956, foi concedida, à ABDE, subvenção anual ordinária de cento e vinte mil cruzeiros, sendo que a quantia de sessenta mil cruzeiros seria destinada à criação de uma bolsa de publicações, de caráter permanente, para a edição de obras de escritores contemporâneos residentes em Goiás, cuja regulamentação ficaria a cargo da entidade beneficiada. Informa, ainda, que atendendo a disposições da lei, remetia ao secretário, para ser referendado, o Regulamento da Bolsa aprovado pela diretoria da ABDE de Goiás, em reunião realizada no dia 27/07/1957[50].
Neste ano, houve, ainda, a inscrição de sete obras para concorrer à Bolsa Hugo de Carvalho Ramos, além do planejamento de publicação de um Anuário Cultural da entidade e da execução de um Curso de Literatura[51]. Os recursos carreados pela subvenção anual, entretanto, foram utilizados para as publicações da recém criada Bolsa da ABDE, como demonstram as obras O Cego (Jesus Barros Boquady),[52]Fábula de Fogo (Gilberto Mendonça Teles) e Música e Maestro (Basileu Toledo França)[53], editadas em 1959, 1961 e 1962, respectivamente.
Gilberto Mendonça Teles vê certa dinâmica nas produções literárias deste período, com a emergência de autores inéditos. De fato, o apoio político e as atividades programadas parecem ter dinamizado a entidade, estimulado os escritores e propiciado meios de melhorar a estruturação física. Nesse sentido, a mais importante realização da administração de Oscar Sabino Junior, talvez tenha sido a aquisição de uma sede própria. Até este momento, as reuniões da ABDE continuavam a acontecer na sede social da AGI (Associação Goiana de Imprensa). Oscar Sabino e Bariani Ortêncio (tesoureiro) relatam que houve uma venda antecipada das salas do Edifício Vila Boa, na Av. Goiás.[54] Uma sala foi adquirida no Edifício, a sala 409, que só seria entregue três anos depois, na gestão de Gilberto Mendonça Teles (1960-1963). Bariani Ortêncio assinala que a associação era uma das únicas no Brasil que possuía sede própria:
Quando foi feito o Edifício Vila Boa, foram vendidas, por antecipação, as salas e a UBE[55], na gestão de Oscar Sabino, e eu era o seu tesoureiro, comprou uma. A única União Brasileira de Escritores que na época funcionava com sede era a nossa. [56]
Oscar Sabino explica que a aquisição da sede no Edifício Vila Boa é a realização de que mais se orgulha enquanto esteve à frente da entidade. Destaca, também, que se esforçou para completar a organização com a catalogação de documentos e estruturação do arquivo e expedição de carteiras para os sócios[57].
Bariani Ortêncio
Enquanto isso, em São Paulo e no Rio de Janeiro, movimentos nacionais iriam influenciar os rumos da ABDE. A queda de Getúlio Vargas, a subida de Juscelino Kubitschek e João Goulart iriam arrefecer os radicalismos nas entidades do sudeste. Os sectarismos não tinham mais razão de ser, pois, de alguma forma, os movimentos sociais e políticos conquistaram espaços de expressão no cenário nacional. Não era mais tão necessária a militância radical em associações de classe utilizadas como canais de propaganda política e protesto.
Com efeito, em 1958, resolveu-se a antiga cisão da ABDE ocorrida quase dez anos antes por questões ideológicas. Em 17 de janeiro de 1958, a Associação Brasileira de Escritores – seção de São Paulo e a Sociedade Paulista de Escritores, fundem-se e constituem a UBE – União Brasileira de Escritores – seção de São Paulo, tendo seu estatuto registrado em 14/02/1958.[58] A primeira Diretoria foi, então, constituída, tendo como presidente, Sérgio Milliet e, em seus quadros de apoio, Menotti Del Picchia e Sérgio Buarque de Holanda, dentre outros. A nova entidade comprometia-se, a partir da Assembléia Geral de Fundação, a manter-se autônoma, embora fosse desejo constituir federação com as demais agremiações literárias no país.
A autonomia não se referia apenas aos outros estados e as ABDEs existentes, mas, especialmente, à liberdade de expressão e criação dos associados, livre de influências políticas que a desviassem dos verdadeiros objetivos e natureza da entidade.
Os documentos da ABDE – Seção Goiás confirmam a posição de independência política. Em correspondência de Antônio D’Elia, Secretário Geral da UBE – São Paulo com Oscar Sabino Junior – Presidente da ABDE, seção Goiás, e com outras filiadas, houve uma exposição de motivos para o adiamento do V Congresso Nacional de Escritores, projetado para realizar-se naquele ano: a dificuldade de manter uma posição de independência dos temas políticos mais polêmicos durante o evento, o que poderia prejudicar a recente reunião das entidades.
Os anos posteriores iriam assistir, em Goiás, ao prosseguimento da política de união defendida pela UBE-São Paulo. A ABDE, seção Goiás, será transformada em UBE-Seção Goiás, por meio da aprovação de um novo Estatuto. A despeito desse passo, seriam anos difíceis, em que a complexa e tumultuada conjuntura do período pré-ditadura militar iriam provocar um retrocesso na organização e conquistas da entidade. Mas isso é assunto para outro texto.
[1] Inicialmente vou mostrar-lhe um ofício datado de 13 de novembro de 1944, dirigido por mim à Associação Brasileira de Escritores de São Paulo. Nele expunha o desejo de um grupo de escritores goianos (“uma turma de rapazes ligados ao jornalismo e às letras”) em fundar em Goiânia, um núcleo da entidade, e pedia instruções sobre como proceder. Ai vê-se que providências anteriores haviam fracassado. Elis, Bernardo. Entrevista ao jornalista Roberto Pimentel. Jornal Folha de Goyaz, Caderno Folha Cultural, 09 de outubro de 1983.
[2] Segundo Bernardo Elis, a gerência da Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos pela ABDE foi uma necessidade do poder público que precisava de um aparelho intelectual que garantisse o seu funcionamento A ABDE abriria as inscrições, receberia as obras, faria o julgamento e publicaria as obras por meio de licitação. Bernardo Elis destaca o trabalho de Oscar Sabino que, segundo ele, foi uma figura muito importante no gerenciamento de todo o processo. (Idem, p.18).
[3] Sérgio Buarque de Holanda, em depoimento publicado no livro UBE – 40 anos, diz que “em 1942, no Rio de Janeiro, Mário de Andrade, Sérgio Milliet e Manuel Bandeira resolveram fundar a Associação Brasileira de Escritores no Rio de Janeiro e aqui em São Paulo ficaria a seção paulista”. CARNEIRO, Caio Porfírio e SAYEG, J.B. A Vocação Nacional da UBE:62 anos. São Paulo: RG Editores, 2004. p. 11.
Em 1942, por iniciativa de escritores contrários à falta de liberdade de expressão imposta pelo Estado Novo, foi fundada no Rio de Janeiro a Associação Brasileira de Escritores. Entre seus fundadores incluíam-se Otávio Tarquínio de Sousa (presidente), Sérgio Buarque de Holanda, Astrogildo Pereira, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Sérgio Milliet, Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Érico Veríssimo. (Jornal O Escritor, edição 110).
[4] Posteriormente foi fundada a ABDE – Associação Brasileira de Escritores – seção de São Paulo, tendo o seu Estatuto e obtido o Registro no Cartório Dr. Arruda, 1o Oficial de Registro, sob o número 3275, em 9 de novembro de 1942. CARNEIRO, Caio Porfírio e SAYEG, J.B. A Vocação Nacional da UBE: 62 anos. São Paulo: RG Editores, 2004. p.28
[5] Idem, p.13.
[6] ÉLIS, Bernardo. O Escritor Goiano é Tímido. Jornal Voz do Escritor, Órgão de Divulgação da União Brasileira de Escritores, seção de Goiás, Ano I, número 1, maio de 1989. p. 8
[7] “O I Congresso Brasileiro de Escritores, organizado pelas ABDEs, tendo como mola propulsora a seção de São Paulo, transformou-se em marco importante e decisivo para quebrar os grilhões da ditadura”. CARNEIRO, Caio Porfírio e SAYEG, J.B. A Vocação Nacional da UBE: 62 anos. São Paulo: RG Editores, 2004. p.40
[8] MONTALVÃO, Sérgio. O Intelectual e a Política: a militância comunista de Caio Prado Júnior (1931-1945).Revista de História Regional:7(1):105-127, 2002.
[9] MACHADO, Luiz Carlos. Eleições na UBE. DM Revista, s/d
[10] MOTA, Carlos Guilherme. Ideologia e Cultura Brasileira (1933-1974). São Paulo: ed. Ática, 1980.
[11] CAVALCANTI, Berenice. Certezas e Ilusões: os comunistas e a redemocratização da sociedade brasileira. Rio de Janeiro, Eduff/Tempo Brasileiro, 1986.
[12] BUONICORE, Augusto. Comunistas, Cultura e Intelectuais entre os anos de 1940 e 1950. Revista Espaço Acadêmico, 2003. Disponível em: http://www.espacoacademico.com.br
[13] ÉLIS, Bernardo. O Escritor Goiano é Tímido. Jornal Voz do Escritor, Órgão de Divulgação da União Brasileira de Escritores, seção de Goiás, Ano I, número 1, maio de 1989. p. 8
[14] ORTÊNCIO, Bariani. Entrevista concedida à pesquisadora Heloisa Capel em 03/04/2006.
[15] O movimento comunista mobilizou todo o tipo de gente. Em suas hostes havia desde bandidos, delinqüentes, cretinos, oportunistas, até pessoas de notável integridade, grande valentia, fulgurante inteligência,enorme generosidade. E havia uns poucos revolucionários que conseguiam unir a paixão política, a dedicação à Causa, com um poderoso espírito de tolerância, uma constante disposição para o diálogo. É a esses militantes que eu, recorrendo a uma imagem provocadora, chamaria de “santos” do comunismo. (…). E, graças a Paulo Cavalcanti, tive a ocasião de entrar em contato epistolar com Cristiano Cordeiro, outro representante dessa nobre estirpe. KONDER, Leandro. Cristiano, santo do comunismo. JB – Online, 2004, p.1. Disponível em: http://jbonline.terra.com.br/jb/papel/colunas/konder
[16] CORDEIRO, Cristiano. Depoimento a Ricardo Noblat. In. Revista Memória & História. Revista do Arquivo Histórico do Movimento Operário Brasileiro. Pernambuco, S/Ed.,N.2,1982.p.88
[17] Idem, p.86-87.
[18] Élis, Bernardo. O Escritor Goiano é Tímido. Jornal Voz do Escritor, Órgão de Divulgação da União Brasileira de Escritores, seção de Goiás, Ano I, número 1, maio de 1989. p. 8
[19] ATA de aprovação final do Estatuto da ABDE, Goiás. Realizada em 09 de junho de 1945. Ata em que aprova uma alteração no artigo 2o :”Promover pelo debate de idéias o esclarecimento de toda e qualquer questão de ordem cultural”.
[20] ATA da seção preparatória da ABDE de Goiás. Goiânia, 26 de maio de 1945.
[21] ATA da primeira seção ordinária da ABDE de Goiás. Goiânia, 23 de junho de 1945.
[22] GOMES, Modesto. Jornal O Observador – Goiás – Agora E Outros, 1942.p.1
[23] ÉLIS, Bernardo. Caminhos e Descaminhos, Contos. Goiânia, Ed. Brasil Central, 1965.
[24] GOMES, Modesto. Jornal O Observador – Goiás – Agora e Outros, 1942 p.1
[25] TELES, Gilberto Mendonça. A Poesia em Goiás (estudo/antologia). Goiânia, Ed. UFG, 1983. p.132
[26] ATA da 3ª Sessão da ABDE, Secção da Goiás, 01/09/1945.
[27] Ofício nº 427, Protocolo 2223. De Venerando de Freitas Borges, Prefeito Municipal. Destinado ao Dr. Cristiano Cordeiro, Presidente da Associação Brasileira de Escritores, Secção de Goiás. 20/03/1945. Neste ofício, o prefeito encaminha ao presidente da ABDE, as cópias da obra, Nos Rosais do Silêncio, de Americano do Brasil, para parecer e correção.
[28] TELES, Gilberto Mendonça. A Poesia em Goiás (estudo/antologia). Goiânia, Ed. UFG, 1983. p.109
[29] ATA da 4ª Sessão da ABDE, secção de Goiás. Goiânia, 15/09/1945.
[30] Ofício nº 455, protocolo 2494. De Venerando de Freitas Borges, Prefeito Municipal. Destinado ao Dr. Cristiano Coutinho Cordeiro, presidente da Associação Brasileira de escritores, Secção de Goiaz. 05/09/1945.
[31] De autoria de Manuel Ferreira Lima.
[32] COSTA, Gerson de Castro. Ofício nº 1/46 de Bernardo Élis (Presidente em Exercício da ABDE) endereçado ao Exmo. Sr. Prefeito Municipal de Goiânia. Secretaria ABDE, Secção de Goiaz, 02/03/1946.
[33] CARTA de Anna Amélia de Queiroz Carneiro de Mendonça (Presidente da Casa do Estudante do Brasil – CEB). Endereçada a Oscar Sabino Júnior, ABDE (Associação Brasileira de Escritores), Secção de Goyaz, 07/04/1948. Fora transmitido ao diretor da CEB, uma cópia da carta que Oscar Sabino enviou a esta instituição pedindo que o livro Rio do Sono fosse distribuído por sua livraria Editora, a fim de que lhe fossem prestadas informações sobre as condições para a distribuição da obra.
[34] BUONICORE, Augusto. Comunistas, Cultura e Intelectuais entre os anos de 1940 e 1950. Revista Espaço Acadêmico, 2003. Disponível em: http://www.espacoacademico.com.br
[35] Opinião de Osvaldo Peralva. Idem.
[36] BUONICORE, Augusto. Idem
[37] PARECER, de Pedro Gomes sobre a obra Gente de Rancho, de Léo Godoy Otero. Goiânia, ABDE, 30/11/1951.
[38] PARECER de José Godoy Garcia sobre a obra: Dentro da Noite, de José Milton Vianna. Goiânia, ABDE, 03/11/1953.
[39] Idem.
[40] Idem.
[41] TELES, Gilberto Mendonça. A Poesia em Goiás (estudo/antologia). Goiânia, Ed. UFG, 1983. p.133-134
[42] De 1950 a 1955 um marasmo geral tomou conta de nossas letras, registrando-se apenas o lançamento de Poemas e Elegias (1953), de José Décio Filho e Alvorada (1955) de Gilberto Mendonça Teles. Idem, p.31.
Interessante que o autor desconsidere os livros de José Vianna (Dentro da Noite), de 1955, de características românticas, e mesmo a obra de Leo Godoy Otero, publicada em 1954, e que obteve excelentes pareceres no início da década de 50, o livro regionalista Gente de Rancho. O autor também não comenta a publicação de Leolídio di Ramos Caiado, em obra premiada pela Bolsa Hugo de Carvalho Ramos e publicada em 1952: Expedição Sertaneja Araguaia-Xingu.
[43] TELES, Gilberto Mendonça. A Poesia em Goiás (estudo/antologia). Goiânia, Ed. UFG, 1983. p.135.
[44] VAZ, Geraldo Coelho. Entrevista realizada com Eli Brasiliense. Jornal Voz do Escritor, Órgão de Divulgação da União Brasileira de Escritores, secção de Goiás. Ano I, Junho de 1989, n.2.p.8
[45] BRASILIENSE, Eli. O Brasil Macaqueia. Jornal Voz do Escritor, Órgão de Divulgação da União Brasileira de Escritores, secção de Goiás. Ano I, Junho de 1989, n.2.p.8
[46] TELES, Gilberto Mendonça. A Poesia em Goiás (estudo/antologia). Goiânia, Ed. UFG, 1983. p.171.
[47] Idem, p.172-173.
[54] Para Bernardo Elis, Oscar Sabino foi muito importante para a instituição. Como afirma: por força de uma verba escassa doada à ABDE pelo Governo Estadual, Oscar Sabino planejou comprar em prestações, a sala onde funciona a entidade. Silenciosa e eficientemente, Oscar Sabino Júnior pagou até o derradeiro vintém e deu a ABDE a referida sala que, com o presidente BarianiOrtêncio, leva o nome de meu pai (o poeta Erico José Curado). Se a temos, devemô-la a Sabino. Elis, Bernardo em entrevista a Roberto Pimentel. Jornal Folha de Goiaz, Folha Cultural, 1983.