União Brasileira de Escritores - UBE/Goiás
UBE: SOB O SIGNO DA RESISTÊNCIA CULTURAL
Heloisa Selma Fernandes Capel
A história da União Brasileira de Escritores (UBE) – seção Goiás, iniciou-se em abril de 1945. Nesta ocasião, em uma sala do Jóquei Clube de Goiás, foi eleita a diretoria provisória da ABDE, entidade que, na década de 1960, transformaria-se na UBE atual. Embora tenha sido criada em 1945, já se esboçavam as iniciativas para se criar um “núcleo”, ou uma “delegação de escritores” em períodos anteriores, como explica Bernardo Élis em entrevista ao Jornal Folha de Goiaz na década de 80. [1] Segundo o escritor, providências anteriores não lograram êxito, mas demonstraram o interesse em criar a instituição. O esforço e a intenção de vários intelectuais e de Cristiano Cordeiro, que viria a ser o primeiro presidente da entidade, bem como as iniciativas de Bernardo Élis foram decisivas nas origens da entidade.
Junte-se a esses personagens, elementos estruturais e de conjuntura favorecidos pelo Primeiro Congresso de Escritores, realizado em São Paulo, além do atrelamento de um concurso literário criado pela Prefeitura de Goiânia em 1944 à nova associação: a ligação da ABDE à Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos. [2] Estes elementos combinados vão resultar na criação e afirmação da ABDE, marco inicial da União Brasileira de Escritores, seção de Goiás.
Para se compreender a criação da Associação Brasileira de Escritores (ABDE) em Goiás, todavia, é necessário vislumbrar o processo de formação de entidades culturais brasileiras no período. Houve uma intensa movimentação das forças político-sociais no cenário internacional e no país durante as décadas de 1940 e 1950 e a performance da associação de escritores foi, ao mesmo tempo, um reflexo e um meio de expressão e resistência ao panorama social e político que emoldurou o cenário. Vivia-se o período dos nacionalismos europeus, o fim da segunda guerra mundial, o acirramento dos blocos político-partidários de esquerda e direita e o recrudescimento da censura político-cultural estimulada pela Era Vargas no Brasil.
Os escritores, legítimos representantes da intelectualidade brasileira, reagiram, foram influenciados por teorias e práticas políticas e, com a clara idéia de resistir às pressões ao seu ofício, associaram-se. As origens estiveram relacionadas à Sérgio Milliet, Mário de Andrade e Manuel Bandeira, intelectuais que fundaram a Sociedade Brasileira de Escritores em maio de 1942, no Rio de Janeiro[3]. A seção de São Paulo foi requerida por Sérgio Milliet, sob o nome de ABDE (Associação Brasileira de Escritores) – seção de São Paulo em novembro de 1942.[4]
Caio Porfírio Carneiro e J. B. Sayeg chegam a afirmar que é bastante significativo que os escritores tenham se associado durante a Guerra Civil Espanhola, sob o impacto de obras como Guernica – sobre a cidade bombardeada em 1937 – e o assassinato de Federico Garcia Lorca, em 1936. Segundo os autores, sob a pressão da Alemanha Nazista e do Estado Novo, é de se admirar a coragem de intelectuais que fundaram a Sociedade de Escritores Brasileiros, inspirada em princípios libertários, “como voz destoante da política endurecida pelos rancores da ditadura.[5]”