O final do século XVII inaugurou o processo de industrialização no Ocidente, este acontecimento foi e é considerado por muitos analistas econômicos um “salto” para o futuro da humanidade. Máquinas a vapor cruzavam mares e terras, arados, máquinas de costura movidas no pedal, as primeiras bicicletas com grandes rodas e depois (século XIX) os primeiros automóveis montados pelo fordismo, tudo isto com a mão de obra humana realizando o grande “salto”. Hoje, século XXI, estamos vivendo a quarta revolução industrial com todo aparato tecnológico que cerca nossas vidas, mundanamente precária para a maioria das populações. Algo saiu muito errado ….
O jornalista e escritor Eduardo Galeano (1940-2015) aponta (com tiro certeiro) no documentário “O Veneno está na Mesa” (2011-2014) os rumos que esta quarta fase da industrialização tomou após a segunda guerra mundial onde as potencias do grupo dos aliados (França, Reino Unido, E.U.A e União Soviética) passaram a ditar as regras de um jogo que se tornou perigoso para a nossa própria sobrevivência. Entre tais regras configura uma das mais importante de todas; A produção dos alimentos. Galeano (1940-2015) destaca que na América Latina as terras passaram a ser alicerçadas para o abastecimento das industrias dos países aliados, com isto os países da América Latina perderam os seus recursos naturais através desta usurpação. O Brasil passou a ser o “quintal” para o despejo de agrotóxicos, transgênicos e implementos agrícolas com altas tecnologias desde então.
“Tal usurpação por pesticidas e inseticidas foi um processo mais rápido do que a conscientização do homem de que os recursos naturais são finitos e a causa de muitas doenças e mortes prematuras nas populações são devido ao uso indiscriminado dos agrotóxicos nas lavouras e nos hortifrútis, tudo isto com o aval do governo federal que ampara e beneficia, com isenção fiscal, o despejo tóxico dos produtos cancerígenos das multinacionais” (Galeano. Documentário- 2011).
A Dra. Letícia (Anvisa- Documentário-2011) relata que existe uma pressão de parlamentares que não aceitam e rebatem as decisões da Agencia Nacional de Vigilância Sanitária com o intuito de se beneficiarem de algum tipo de transação comercial com as multinacionais do agronegócio. Tais industrias vêm no Brasil uma cifra gigantesca de oportunidades, o lucro para tais empresas (Monsanto, Bayer, Syngenta, Du Pon, Down) é fabuloso e as doenças para quem consome os alimentos e manipula muitos dos agrotóxicos, também, são fabulosas.
Os governos progressistas defendem um discurso de que sem os produtos químicos faltará alimento para a humanidade, com isto o lobe do setor dos agrotóxicos cresce vertiginosamente impactando a saúde humana. Rios, Lagos, o próprio ar que respiramos está contaminado. As crianças do tal futuro maravilhoso (prometido por tais governos e industrias do setor) estão comprometidas em sua saúde, mulheres grávidas e adolescentes em formação também, explicou, na introdução do documentário, André Trigueiro (1966) jornalista brasileiro especializado em jornalismo ambiental. Lembremos do Brasil Colônia onde os portugueses fizeram do Atlântico uma “ponte de travessia” das matérias primas (Pau Brasil, Cana de Açúcar, Minérios, Café, Tabaco entre outros) retiradas do Brasil para abastecer um Portugal em miséria, enriquecendo muitas monarquias europeias num comércio de manufaturas. De lá para cá o jogo continua e o Brasil se tornou uma grande Commodietes. Percebemos que o “dado está vicioso” porque os lucros continuam nas mãos de um pequeno grupo de latifundiários e empresários do setor agrícola que fez da agricultura um negócio e a importância alimentar aliada a saúde humana foi jogada no lixo.
Governos Neoliberais, Syngenta, Monsanto, Basf, Bayer, Du Pon, Down são parceiros do genocídio humano em favor do deus Mercado! (Grifo meu).
Mas, segue Adonai, um homem do campo firme e forte em suas convicções numa luta de resistência contra o deus Mercado. (Adonai, um pequeno agricultor entrevistado no documentário- Grifo meu).
Uma pergunta: Qual é a fonte de alimentação do povo brasileiro?
Soja? Feijão? Milho? Algodão? Sorgo? Hortifrútis? O milho, o feijão, o óleo de soja e os hortifrútis contaminados estão no prato das famílias brasileiras. E quanto à formação técnica daqueles que cuidam das plantações agrícolas? Sim, as instituições acadêmicas de ensino agronômico deveriam elaborar um currículo que evidenciasse uma formação responsável voltada para a questão da biodiversidade, uma formação responsável com o consumidor, com a população como um todo. Sabemos que um manejo consciente elencando o sistema de agrofloresta é o caminho a seguir e que preservar o que resta da flora e da fauna silvestre brasileira, para a própria existência humana, deverá ser o mote para garantir a sobrevivência das gerações que seguirão. A alimentação sustentável não é utopia, os recursos naturais são finitos, a conscientização é agora, o dever de fiscalizar e cobrar dos gestores públicos ações eficazes está para todo brasileiro.
Fonte:
Documentário: O Veneno está na Mesa. Produção: Caliban /Cinema e Conteúdo. 1ªedição 2011. 2ª edição 2014. Acesso em Maio de 2022. Disponível em www.youtube.com