Ontem, pra variar, depois de tantos desencontros e desencantos, chegou-nos, pela rede social, uma notícia alvissareira. Calejado pela experiência, perguntei-me se não se trataria apenas de mais uma ‘fake news,’ tantas são a proliferar nas plataformas digitais. Pesquisei. Era uma boa , surpreendente e verdadeira notícia: instituíra-se, em Goiás, uma data comemorativa do escritor goiano. O dia coroado: 29 de abril. Essa data assinala a fundação, no ano de 1939, da mais tradicional instituição cultural de Goiás, a Academia Goiana de Letras. O mesmo dia dedicado a Santa Catarina de Sena, a doutora da Igreja, fundadora da congregação das freiras de Uruaçu. E dia mundial da dança. Os escribas estão mesmo em ótima companhia! E ora vejam, em Goiás, terra do agronegócio e da música sertaneja! E sancionada sem vetos e com rapidez! O mundo dá mesmo muitas voltas. Curioso, fui averiguar de quem fora a iniciativa de homenagear os intelectuais da terra, em geral relegados à obscuridade e ao anonimato. Como ocorre, aliás, da mesma forma, às instituições que os congregam. E é até engraçado como, à época das eleições, aparecem tantos mecenas, tantos benfeitores da cultura, com promessas sedutoras de fomento às artes. Depois do pleito, só resta às entidades o pires na mão. E a costumeira mendicância. Quem foi o autor dessa lei? Foi fácil obter a resposta, está tudo na internet. A proposição foi do deputado Virmondes Cruvinel Filho, o Virmondinho. Que grata surpresa, pra mim! Seu pai Virmondes foi meu colega de República estudantil, e também político, e o filho foi meu aluno no curso de Direito da Universidade Federal de Goiás. Já exercia liderança estudantil, por aquela quadra. Abonei muito de suas faltas às aulas, acolhendo justificativa de que se achava em reuniões no Centro Acadêmico. Não tinha motivos para não acreditar.
Agora, Virmondes Filho, no seu terceiro mandato, e já intitulado deputado da educação, causa orgulho a este seu velho professor do final dos anos 80. Bravo, Virmondes! E a César o que é de César: o poeta Bira Galli, da Academia Goiana de Letras, foi quem idealizou, provocou, insistiu junto ao solícito e esclarecido parlamentar. Foi exitoso. Palmas pra ele! Mas isso é só o início! É preciso incentivar a leitura, ampliar as bibliotecas, facilitar o acesso ao livro digital, divulgar entre nós a literatura e os autores goianos, incluindo suas obras nos currículos e conteúdo programático das escolas. Ainda é preciso muito, amigo! Essa data é uma homenagem significativa e simbólica – não há vida sem símbolos – mas vamos em frente: promovam-se edições dos livros dos goianos; instituam-se prêmios às obras mais bem avaliadas; incentivem-se as editoras; distribuíam-se livros aos estabelecimentos de ensino, sobretudo os colégios militares; criem-se subvenções às Academias literárias, isentando-as dos tributos ordinários. Há ainda muito o que fazer! Afinal, nossa obrigação é honrar a memória e a produção literária dos ícones da escrita em Goiás, como Cora Coralina, Léo Lynce, José Godoy Garcia, Bernardo Elis, Hugo de Carvalho Ramos e J.J. Veiga, para citar alguns poucos, pouquíssimos, pois são daqui o poeta Afonso Félix, o cronista Carmo Bernardes, o romancista Eli Brasiliense, ( para mencionar só os que passaram para a outra margem) e tantos, tantos mais!
Observem a rica bibliografia da Academia Goiana de Letras. É ótimo haver o dia do Escritor! Mas bom mesmo será quando pudermos nos gabar: “Aqui em Goiás, todo dia é dia da escrita!
Goiânia, 22/maio/23.